O mesmo tempo que nos faz frios e arrogantes numa certa idade, modula o bastante para revelar a fragilidade e finitude de todo e qualquer ser, ter e poder. Quando essa experiência começar a se assentar em nós e impor nova sensiblidade é porque o tato, visão e audição estão falhos e em verdade já estamos vendo nossa avó por uma greta, bem na beira da entrada daquela última porta.
TEXTÃO. NÃO LEIA. SOBRE CURSOS À DISTÂNCIA NO BRASIL DO BOLSO e a explosão de plataformas de ensino On e Off line durante a Pandemia. Há quase quinze anos atrás encontrei uma ex-aluna da rede pública na periferia da periferia. Ela me contou sobre sua alternativa para continuar estudando após concluir o ensino médio. Uma instituição chamada ULBRA, (se não me engano) lhe enviava fitas K7 de vídeo e apostilas pelo correio e a cada dois meses um avaliador utilizava uma sala alugada em uma escola da cidade para aplicar provas aos estudantes. Mais ou menos nessa época as gerências das faculdades privadas e semi-públicas começaram a nos forçar professoras/es a explorar as possibilidades de atividades na plataforma moodle para aulas extracurriculares, compensação de ausência, dependência, etc. O ensino superior privado cresceu tanto que foi premiado pelo ex ministro Tarso Genro com fatias gulosas de recursos federais e ninguém gritou, afinal do outro lado, o petismo no poder fez algo heroico e dirigido: Plantou várias universidades Federais em lugares tidos como vazios demográficos e revertendo uma tendência de zero investimentos desde o fim da ditadura. O que o bolsonarismo enseja como política educacional desde o infantil até o pós doutorado é fundamentado numa cultura política amplamente estabelecida, a educação pública de qualidade deve ser reservada as elites. Setores da intelectualidade tida como democrática não levantariam a bandeira para defender publicamente este mesmo ponto de vista, mas seria capaz de fazê-lo quase em silêncio, ou com relativa discrição. Tal como fez apontando o risco da "Queda da Qualidade", caso pessoas das classes populares atravessem o apertado gargalo do ensino médio. O grupo da Dra Ruth Cardoso- FFLCH-USP, o fez em tempo, com amplo apoio da mídia corporativa, que teve repercussão duradoura na opinião publica de todo país. Esse vácuo recente de retraimento do ensino superior privado e congelamento dos investimentos federais se transformou na festa da pamonha dos cursos oferecidos por particulares e empresas de educação privada na Pandemia. Nós, intelectuais negros e negras inseridos institucionalmente ou não também corremos para saber as novidades. Já há algum tempo as grandes instituições de ensino superior do Reino Unido e dos Estados Unidos lançam campanhas de cursos On Line de MBA. Quando a pandemia escancarou algo já sabido sobre a ineficiência das operadoras de tecnologia de comunicação e a revoltante desigualdade de acesso a internet de banda larga. Todos os sensores de sobrevivência já estavam ligados. Solidão, perdas, quedas, mortes a varejo, deprê, “chama-se o Gilberto Gil, Bode não dá pra entender, torna a repetir, transcende o marco 2000.” Agora não vá dizer que sou louco, “é só um jeito de corpo não precisa ninguém me acompanhar.” ( Nota de roda pé para Caetano Veloso, o pavão-leão recluso, comendo paçoca pela mão de Paula Lavigne). Nada. Nada é mais importante que rua. Mas o facebook me põem em contato sonoro e visual com minha sobrinha amada no interior do Paraná e isso pode parecer uma espécie de compensação. Meus sobrinhos e sobrinhas estão em casa, tal como eu, procurando um novo jeito de continuar apreendendo o mundo, do jeito que conseguem.
Repósito de fontes textuais, sonoras e imagéticas de processos de criação e difusão de Artes Autorais. Veículo de diáspora negra e as suas fricções, interações e apropriações no mundo contemporâneo.
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